Franclim Caetano, a Portuguese artist, discusses his career in ceramics, starting with teaching and transitioning to full-time artistry in 2014. He highlights the evolution of his work, including his famous nativity scenes, and reflects on the changing landscape of Portuguese craftsmanship. He also mentions his views on education and the impact of the loss of manual skills on the new generations. He talks about the shift of focus in the arts and the importance of supporting genuine artisans.
Author: Margarida Veríssimo
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Uma Perspectiva no Futuro do Artesanato Português
Franclim Caetano é um artista português, com atelier em Gouveia, na Guarda, Portugal. No dia 20 de Agosto de 2024, sentei-me com ele para uma entrevista online e, ao longo de uma conversa longa, debruçámo-nos sobre variados temas.
Quem é Franclim Caetano?
1. Quem é o Sr. Franclim Caetano?
Eu fui professor de várias áreas durante 43, 44 anos. Neste momento, continuo ativo a trabalhar com associações que ajudam miúdos com deficiências. Comecei a dar trabalhos manuais, depois educação visual e tecnológica, e cerâmica ao terceiro ciclo. (…) Em 2014, decidi rescindir o contrato com o Ministério da Educação e dediquei-me à cerâmica a tempo inteiro. Deixei as escolas, mas continuo nas associações. Tenho participado em várias feiras de artesanato a nível nacional e espero continuar ainda por muitos anos.
2. Mas como foi que entrou no mundo das feiras? Durante anos, as principais feiras de artesanato que frequentou foram as de Gouveia, mas nasceu no Mazouco/Freixo de Espada à Cinta. Porquê Gouveia?
Eu dei aulas durante vários anos e conheci a minha mulher em Foz Côa, quando estava lá a trabalhar. A partir daí, resolvi aproximar-me aqui de Gouveia, onde os pais dela viviam, e foi por isso que vim para aqui. Foi nessa altura que comecei a trabalhar a sério para vender peças de cerâmica. Quando a Câmara de Gouveia soube que eu estava a fazer esse tipo de peças, ligadas à pastorícia e a motivos serranos, eles quiseram ver e gostaram. Começaram a comprar peças para oferecer a ministros e secretários de estado. A partir daí, comecei a ver que isto interessava às pessoas e convidaram-me para a Feira de Artesanato de Gouveia, onde tudo começou.
3. Como se pode resumir a sua obra? E sobre o seu afamado presépio?
As peças que vendo mais neste momento são os presépios, o Santo António e o Cristo. Faço outros tipos de peças decorativas, como Bacos, além de obras ligadas à pastorícia e à agricultura. O presépio surgiu por acaso, quando fui convidado para trabalhar ao vivo na feira de gastronomia de Santarém. Ao pensar no que fazer, decidi criar um presépio com motivos serranos. Enquanto trabalhava, percebi que as pessoas estavam a gostar, e rapidamente começaram a mostrar interesse em comprar. O presépio, feito a partir de um tronco, tornou-se uma das minhas obras mais conhecidas, sendo que sou o único a fazê-los dessa forma. Há colecionadores que, ao verem outros presépios, dizem que já têm, mas quando encontram o presépio do tronco, levam-no, pois não o têm.
4. Mas é o presépio e as peças de motivos religiosos a totalidade da sua obra?
Faço outro tipo de peças decorativas que não têm nada a ver com a parte religiosa. Por exemplo, Bacos, que são peças ligadas ao vinho, não é? E outras atividades ligadas não só à pastorícia, mas também à agricultura. Faço também outro tipo de peças que me pedem; qualquer encomenda que me façam, eu costumo fazer.
A Educação
1. O que o levou a sair do ramo da educação e a debruçar-se sobre a cerâmica como saída profissional?
Por dois motivos.
Primeiro, porque eu já devia estar reformado quando tomei essa atitude. Eu devia-me reformar aos 36 anos de serviço, mas começaram a adiar, e cada vez que pedia simulação, faltavam 8 anos para a reforma. Entretanto, saiu uma publicação que podíamos fazer a rescisão por mútuo acordo. Foi o que eu fiz. E acho que foi uma injustiça o alargamento da idade da reforma. Por isso, decidi rescindir, sabendo que não ficaria em casa parado; eu sabia que ia trabalhar na cerâmica e que ia para as feiras.
2. E em segundo? A destruição do currículo das disciplinas de Educação Tecnológica?
Sim, essa foi uma das razões que me ajudou a deixar o ensino. Estava a dar educação tecnológica, e o programa foi totalmente alterado. As aulas eram práticas e os miúdos gostavam. A partir dessa altura, o programa mudou; parecia que estava a dar uma aula de História, e era desmotivante. O ensino em Portugal está pior que na Espanha, onde ainda têm uma vertente prática. Aqui, está a ficar cada vez mais teórico. Nota-se uma diferença; nos últimos anos, os miúdos deixaram de saber fazer coisas manuais. Estão virados só para os telemóveis e a informática, mas o que vemos é que usam isso apenas para jogar.
3. Mas, no entanto, ainda há muitos que enveredam pela carreira, não?
Tem-se conseguido. Eu tenho encontrado alunos meus de há uns anos com excelentes peças. E miúdos que eu, pronto, na altura, nunca pensei que seguissem esta área. Eu tenho encontrado alguns que foram depois estudar para Coimbra, para a Escola Superior de Artes, e para outros sítios.
4. Mas, ao mesmo tempo, parece que há uma perda de tradição?
Há muita gente aqui em Portugal que fala muito da tradição, e então querem apoiar cada vez mais as tradições. A partir do momento em que começou a haver trabalhos manuais, a educação tecnológica, todos os miúdos de todo o país têm contato com vários materiais. Portanto, aí já é uma aprendizagem que não tem nada a ver com a passagem de pais para filhos Neste momento, pode-se fazer cerâmica em qualquer parte do país. Antes, antigamente, era só Barcelos, Caldas da Rainha, Estremoz e pouco mais. Antigamente, havia aqueles sítios específicos para trabalhar o barro (…) isso tinha a ver mesmo com a passagem de pais para filhos. A partir do momento em que isto começou, as escolas a dar formação, isso passou-se a fazer em todo o lado. Hoje, trabalha-se qualquer coisa, qualquer material, em qualquer lado. E também, ao mesmo tempo, há mais inovação, não é?
Artesanato Português
1. E porque o barro como expressão artística?
Pois. Através da Universidade de Aveiro e do Minho, é que tivemos essa componente teórica. Trabalhámos com vários materiais. Um deles era o barro. E por acaso, na altura, porque é que eu enveredei pela cerâmica? Por uma razão muito simples: é que na altura, quando eu comecei a dedicar-me a esta atividade, eu vivia num apartamento no centro da cidade, portanto eu não podia fazer barulhos, não podia fazer ruídos, senão incomodava os vizinhos. E pronto, como também gostava muito da cerâmica, optei mesmo pela cerâmica. Porque, olha, se fosse hoje que eu tivesse que optar, aí sim, eu tinha escolhido o ferro forjado. Onde vivo hoje, aqui sim.
2. E o que acha dos apoios para expandir o artesanato português no mundo? Acha que há falta de apoios?
Não sei, sinceramente. Eu conheço pessoas que costumam fazer feiras internacionais e acho que têm apoio, porque senão também não iam tantas vezes. De qualquer maneira, foi uma coisa que eu nunca procurei saber, porque também não tenho muito tempo disponível para me ausentar, por exemplo. As feiras que eu fazia, as grandes, de 8 e de 15 dias, deixei de fazer a partir do momento em que fiquei ocupado com as associações. Já tenho recebido alguns convites e, pronto, com convites, talvez eu futuramente vá participar em feiras internacionais.
2. E aqui em Portugal, apoia-se o artesanato local? Especialmente a Câmara de Gouveia?
Já apoiou em tempos, na Câmara anterior. Agora deixaram de apoiar… em Gouveia a feira já teve 60 e tal stands, e, neste momento, estamos reduzidos a 3 ou 4. Já não se vê praticamente artesanato. Penso que foi uma opção dos responsáveis que organizam a feira. Ainda há câmaras que apoiam bem o artesanato, como a Câmara de Vila Franca de Xira. Outras câmaras querem fazer umas festas e o artesanato, que deviam apoiar, é esquecido.
3. Mas parece que cada vez mais se vê feiras de artesanato.
Qualquer junta de freguesia faz uma feira de artesanato e as pessoas ficam desiludidas. Colecionadores dizem que vão deixar de vir à feira. Os organizadores das feiras vão alugar estandes a qualquer preço. As coisas têm perdido qualidade. Em Oleiros e na Vila Franca de Xira, ainda há feiras só de artesanato.
4. O foco mudou? Dos trabalhos manuais que exigem muito tempo para peças mais simples?
Neste momento, há muita gente a vender peças que nem são eles que as fazem. Em vez de apoiarem os produtores, estão a apoiar intermediários. Se há pessoas que têm um bom artesanato, têm que esperar 2 e 3 anos por um stand . Outras pessoas que não fazem nada de jeito Isso não devia acontecer, não é? Mas, enfim, acontece.
5. E há plágio? E o que se faz nessa situação?
Já. Alguns colegas tentam copiar. Só me copiaram umas vezes uns presépios que eu fiz em imãs. Uma vez vi um senhor que trabalha em cortiça a copiar os mesmos modelos. Eu mandei-lhe um comentário bem direto e pedi para deixar-se disso.
A nossa entrevista ficou-se por aqui.
Conclusão Pessoal
Em Portugal, é evidente que tem havido uma transformação no panorama do artesanato. Na educação, este saber tradicional tem se perdido ao longo do tempo, enquanto nas feiras podemos observar uma diluição da verdadeira essência do artesanato. A expansão e a acessibilidade desse setor, embora tenham proporcionado oportunidades, também trouxeram desafios, como a proliferação de imitações e a venda de produtos falsificados que se dizem artesanais. Essa situação compromete a autenticidade e a rentabilidade do negócio, suscitando preocupações sobre o futuro do artesanato no país.
É fundamental que prestemos atenção aos verdadeiros artesãos e às suas histórias, pois permite-nos entender melhor estas questões e valorizar o seu trabalho. Ao reconhecermos e apoiarmos esses profissionais, podemos contribuir para a preservação do património cultural e artesanal que Portugal tem a oferecer.
Para explorar a galeria de Franclim Caetano, será de interesse visitar o seu Facebook: Franclim Páscoa Caetano | Facebook
Cover Image: A clay piece from Franclim Caetano